Na última semana de outubro, a diretoria do Hospital do Câncer de Patrocínio “Dr. José Figueiredo” recebeu uma carta da vendedora Liliane Nunes Vieira de 31 anos da cidade de Bambuí. A carta continha uma grande mecha de cabelo e suas linhas repleta de esperança, agradecimento, enfermidade, perca, superação, fé e muito amor.
A História
Liliane casou-se com o técnico em enfermagem Gustavo de Jesus no dia 07 de setembro de 2013. A primeira gravidez de uma menina ocorreu em janeiro desse ano. Aos oito meses de gravidez, no dia 27 de julho desse ano Liliane não se sentia muito bem. Antes de entrar no plantão do Hospital Nossa Senhora do Brasil, Gustavo passou em casa e viu o estado de saúde da esposa. Imediatamente encaminhou Liliane para a unidade de saúde sentindo muitas dores na região do abdômen. Na manhã do dia 28 o ginecologista Dr. Roberto decidiu fazer uma ultrassonografia para tentar descobrir o que causa a dor, quando se descobriu um forte sangramento no abdômen o que levou a suspeita da síndrome de Hellp.
Síndrome
A Síndrome de Hellp é uma complicação obstétrica grave, pouco conhecida e de difícil diagnóstico, que pode causar a morte da mãe e também do bebê. É chamada de síndrome porque envolve um conjunto de sinais e sintomas, baixa contagem de plaquetas e por isso um dos sintomas dessa síndrome é a hemorragia. Os sinais e sintomas da Síndrome de Hellp podem ser facilmente confundidos com os da pré-eclâmpsia grave, que são dor na parte alta ou central do abdome, cefaleia, náuseas, vômitos e mal estar generalizado.
Quanto não é feita uma correta avaliação laboratorial, esses sintomas podem passar despercebidos, sendo feito o diagnóstico apenas quando a Síndrome de Hellp se agrava, provocando edema agudo dos pulmões, insuficiência renal, falência cardíaca, hemorragias e ruptura do fígado, podendo ocasionar a morte materna. O único tratamento capaz de frear os efeitos da Síndrome de Hellp é o término da gestação, que pode ser feito através de uma cesariana ou indução do parto. Caso a gestante apresente um quadro estável, o médico pode optar por ministrar medicamentos para induzir o amadurecimento pulmonar fetal, reduzindo as complicações neonatais e o tempo de internação na Unidade de Terapia Intensiva. Não há prevenção para essa doença, mas o diagnóstico precoce aumentam as chances de que mãe e bebê sobrevivam.
Patrocínio
Os médicos que atendiam Liliane sugeriram ao marido enfermeiro a busca por uma Unidade de Terapia Intensiva, pois caso contrário não sobreviveria. A vaga foi conseguida na Santa Casa de Misericórdia de Patrocínio, aonde ela já foi encaminhada para o bloco e entubada, onde permaneceu internada por 17 dias. Sedada Liliane foi submetida a uma cesariana de urgência. A criança Maria Laura, foi encaminhada para a UTI Neonatal da Santa Casa, mais 20 minutos depois de nascer veio a óbito. Contudo, o pai e alguns familiares chegaram a conhecer a criança. Liliane teve o fígado dilacerado pela síndrome de Hellp, comprometimento de outros órgãos, incluindo os rins, quando foi necessário fazer algumas sessões de hemodiálise. Deixou a UTI e foi transferida para o quarto onde permaneceu durante três dias, quando posteriormente voltou para Bambuí onde faz alguns acompanhamentos, mas por tudo o que passou, acredita que foi um milagre a chance de ainda estar viva e feliz. Segundo os médicos ela pode tentar engravidar novamente o que está nos planos do casal.
Doação
Durante o tempo que permaneceu na Santa Casa de Misericórdia de Patrocínio manteve contato com vários médicos, médicas, enfermeiros, enfermeiras e moradores da cidade e foi muito bem cuidada. E assim teve conhecimento do trabalho desenvolvido pelo Hospital do Câncer de Patrocínio “Dr. José Figueiredo” e foi ai que resolveu cortar e fazer a doação dos cabelos pelos quais mantinha um “apego” muito grande. Liliane ainda diz na carta que, “ficou muito triste com a morte da criança, mas acredita que ela veio ao mundo apenas para salva-la, já que sempre foi uma criança muito esperada por todos. Deu-me muitas alegrias enquanto esteve dentro de mim”, salienta Liliane Nunes Vieira.
Luiz Cabral/ASCOMHCP